Na noite do dia 6 de maio, a residência de um colecionador de arte no Leme, no Rio de Janeiro, se tornou ponto de encontro para artistas, produtores e intelectuais das mais diversas áreas culturais. O evento, intitulado Roda de Conversa com Margareth Menezes, ministra da Cultura, foi promovido por Marco Aurélio de Carvalho, Hecilda e Marta Fadel, reunindo nomes de destaque do meio artístico nacional.
Apesar da forte presença de representantes das artes visuais e do audiovisual, o teatro teve um momento de protagonismo com a participação marcante de Gillray Coutinho, um dos atuais Coordenadores Provisórios da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT). Em sua fala, Gillray rompeu o silêncio que pairava sobre o teatro durante o encontro e levou ao centro do debate a crítica situação dos direitos autorais no Brasil.

Gillray Coutinho, coordenador provisório da SBAT, teve participação marcante ao trazer o teatro para o centro do debate e expor a grave situação dos direitos autorais no Brasil.
Com contundência, ele destacou que, embora as leis de incentivo no país destinem anualmente R$ 500 milhões para a cadeia produtiva do teatro, as associações responsáveis pela gestão coletiva de direitos autorais — entre elas a SBAT — recebem valores ínfimos de taxa administrativa: “em 2023, uma recebeu R$ 64 mil, outra pouco mais de R$ 100 mil reais. Onde está o resto do dinheiro?”, questionou. A fala provocou comoção e foi ovacionada pelos presentes, marcando o tom político e reinvindicatório do encontro.
Gillray chamou a atenção para a ausência do teatro nas discussões estruturais do Ministério naquela noite e reivindicou a necessidade de recolocá-lo na agenda pública com urgência. “Estou aqui para colocar o teatro na agenda do Ministério. Claro que já está, mas eu queria reforçar aqui”, afirmou, sendo citado ao final pela própria ministra Margareth Menezes, que reconheceu a importância do tema.
Além disso, falou sobre a urgência de discutir a memória cultural brasileira com destaque para a necessidade de se estruturar o extraordinário acervo da SBAT e criticou a atual lógica de editais pulverizados, que não fomenta de forma sustentável a cadeia produtiva. Propôs ainda que o modelo do teatro seja inspirado no cinema, com estratégias para torná-lo economicamente viável e atrativo para produtores.
Outro ponto importante da noite foi o diálogo entre Gillray e o representante da Secretaria de Direitos Autorais e Intelectuais do Ministério da Cultura, que o procurou pessoalmente após a fala para agradecer e iniciar um contato direto. A conversa revelou o desconhecimento técnico de parte dos gestores sobre o fluxo dos recursos destinados aos direitos autorais e reforçou a proposta da SBAT: que todos os negócios passem obrigatoriamente pelo crivo das associações, garantindo transparência, rastreabilidade e justiça para os autores.
Ao final da noite, entre provocações, aplausos e olhares atentos, a presença da SBAT ressoou como um chamado à reflexão e à ação. “Ganhei alguns pontos essa noite, pelo menos isso”, resumiu Gillray em um relato enfático. Em um ambiente onde a palavra teatro quase não era pronunciada, a intervenção firme e embasada da SBAT recolocou o setor no centro da roda.
Contato feito, bandeiras erguidas. Agora é esperar que as palavras se transformem em política pública.