Lucas Popeta está de volta aos palcos com seu aclamado espetáculo “Quebrando Paradigmas”. O monólogo reflete sobre resistência, arte e representatividade, apresentando, sob o ponto de vista de um jovem artista negro e periférico, a ancestralidade, a trajetória e a resistência negra no Brasil através do teatro. Foto: Ariel Santos
Rio de Janeiro – O ator e dramaturgo Lucas Popeta retorna à cena carioca com o monólogo “Quebrando Paradigmas”, obra que consolidou seu nome como uma das vozes mais atuantes da nova geração do teatro negro brasileiro. Após temporada de sucesso no Teatro Municipal Ipanema Rubens Corrêa, o espetáculo ocupa agora o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no Centro do Rio, com sessões de 14 a 30 de novembro e de 04 a 21 de dezembro de 2025, sempre às 19h.
Uma narrativa cênica sobre identidade e construção histórica
Combinando dramaturgia autobiográfica, narrativa histórica e recursos performáticos, “Quebrando Paradigmas” delineia um percurso simbólico da experiência negra no Brasil. Sob o olhar de um jovem artista negro de 23 anos, a encenação entrelaça momentos decisivos da formação cultural do país e revela, com clareza crítica, a persistência das desigualdades sociais e raciais ao longo dos séculos.
As figuras históricas evocadas no espetáculo formam um verdadeiro panteão da intelectualidade e da criação negra no Brasil. Entre elas, destacam-se Abdias do Nascimento, fundador do Teatro Experimental do Negro e um dos maiores pensadores do século XX; Aguinaldo Camargo, ator de presença marcante na primeira geração do TEN; Ironildes Rodrigues, artista de trajetória expressiva na luta por visibilidade cênica; Léa Garcia, cuja potência dramática atravessou décadas e projetou o Brasil no cenário internacional; Ruth de Souza, pioneira absoluta que abriu caminhos na televisão e no teatro; e Mercedes Baptista, primeira bailarina negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal e precursora da dança afro-brasileira. Reunidos no tecido dramatúrgico, esses nomes compõem uma cartografia de resistência, talento e transformação que ilumina a cena e restitui à memória coletiva a grandeza dessas vidas.
Percurso de um jovem da periferia ao palco
O espetáculo acompanha a trajetória de um jovem negro da periferia que, ao ingressar em uma escola de teatro, depara-se com o vazio cultural que historicamente cerca a juventude negra brasileira, privada do acesso às próprias referências e desprovida de narrativas que a representem. Esse choque inicial, exposto em cena como fratura e descoberta, torna-se o motor dramatúrgico que impulsiona sua passagem da insegurança ao amadurecimento político. À medida que se confronta com a ausência de consciência racial no meio artístico e reconhece a grandeza de figuras como Abdias do Nascimento, Léa Garcia, Ruth de Souza, Aguinaldo Camargo e Mercedes Baptista, sua jornada deixa de ser apenas individual e passa a refletir a experiência coletiva de gerações de artistas e cidadãos negros que lutaram, e continuam lutando, para inscrever suas histórias na formação do país.
Dimensões Políticas e Poéticas de ‘Quebrando Paradigmas’”
Ao atravessar os eixos temáticos que estruturam “Quebrando Paradigmas”, percebe-se que o espetáculo abandona qualquer confinamento à esfera artística e se projeta como uma investigação crítica de amplo alcance sobre o país. A obra reconhece a herança africana como elemento fundamental da formação cultural brasileira, resgatando memórias silenciadas e afirmando narrativas negras e periféricas como centrais para compreender a construção da identidade nacional. Ao revisitar o legado do Teatro Experimental do Negro, a vida e luta de Abdias Nascimento, entre outros mestres negros, o monólogo redescobre o teatro como instrumento de resistência e espaço legítimo de denúncia das desigualdades estruturais. Nesse sentido, o palco, além de um espaço de subjetividades, é um território político, onde a arte opera como gesto de enfrentamento e reconfiguração simbólica.
Para Lucas, narrar essa história é essencial para reafirmar nossa identidade coletiva, sobretudo em um momento em que o país começa a reconhecer, com mais clareza, quem de fato participou da construção de sua formação social e cultural. “Dar nome e voz a essas pessoas é reencontrar a história que não nos ensinaram nas escolas e que agora temos autonomia pra descobrir. É entender de onde viemos e poder escolher, com consciência, pra onde queremos ir. Isso é muito novo, porque há 50 anos atrás a gente não tinha essa mentalidade. Vivemos num país jovem, que ainda está se entendendo enquanto nação. Mas é através da história recuperada que a gente alimenta a esperança de construir um futuro com mais dignidade, mais consciência e condições melhores do que as que os nossos ancestrais tiveram”, explica Popeta.
Após temporada de sucesso no Teatro Municipal Ipanema Rubens Corrêa, o espetáculo ocupa agora o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF)
A força transformadora do espetáculo também se evidencia na maneira como coloca a juventude periférica no centro da reflexão sobre futuro, cidadania e mudança social. O protagonismo desse jovem artista funciona como espelho das tensões e possibilidades que marcam a vida de milhões de brasileiros. Ao abordar caminhos de superação, a obra projeta a arte como ferramenta concreta de emancipação, capaz de inspirar novas práticas educativas, ampliar debates públicos e fortalecer iniciativas culturais negras. O impacto esperado vai além da sala de espetáculo: formar plateias críticas, estimular representatividade, criar vínculos entre arte e educação e, sobretudo, alimentar a utopia de um país mais igualitário, construído a partir da potência criativa e política das vozes historicamente excluídas.
Minibiografia do artista
Lucas Popeta é ator, dramaturgo e idealizador do espetáculo, conduzindo uma pesquisa consistente sobre o Teatro Experimental do Negro e incorporando esse legado de forma precisa e contemporânea à sua criação cênica. Seu trabalho como pesquisador do movimento o insere entre os artistas que vêm ampliando o debate sobre representação e memória no país. Reconhecido pela APTR e pela Forbes BLK como liderança emergente da cultura brasileira, reúne experiência no teatro, no cinema e na televisão, com atuações em novelas da Globo e na série Impuros (Disney). Atualmente, integra a turnê nacional de “50 Anos de Poesia”, ao lado de Jorge Aragão.
SERVIÇO
Quebrando Paradigmas
Temporada:
• 14 a 30 de novembro de 2025 – Sexta a domingo, 19h
• 04 a 21 de dezembro de 2025 – Quinta a domingo, 19h
Local: Centro Cultural Justiça Federal (CCJF)
Endereço: Av. Rio Branco, 241, Centro, Rio de Janeiro (RJ)
Classificação: Livre
Duração: 60 minutos
Ingressos: R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia)
Venda: Bilheteria do CCJF ou https://www.sympla.com.br/evento/quebrando-paradigmas/3214055
Ficha Artística e Técnica
Idealização, dramaturgia e atuação: Lucas Popeta
Direção: Gizelly de Paula
Direção de produção: Gabriela Nascimento
Direção musical: Beà Ayòóla
Direção de movimento: Marili Stefany
Figurino: Carla Costa
Iluminação: Domingos e Wladimir Alves
Preparação vocal: Adriana Micarelli
Assistência à dramaturgia: Gabriela Nascimento e Patrícia Regina
Fotografia: Ariel Santos e Kelly Trindade
Registro e edição de vídeo: Jennifer Oliveira
Assessoria de imprensa: Carlos Pinho
Realização: Popeta Produções Artísticas
Produção: Independente, sem lei de incentivo




