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Crítica: Violeta em 10 cantos: a peça é um canto de oprimidos que não se curvam

O espetáculo teatral Violeta Parra em 10 cantos estreou em São Paulo, o que vemos, ouvimos e sentimos no palco do Bandeirantes Itália é uma orquestra afinada,  cujos integrantes são o autor Luiz Alberto de Abreu, o diretor Luiz Antônio Rocha, a atriz Rose Germano, o músico Bruno Menegatti, a luz de Ricardo Fujji, o cenário de Eduardo Albini, acolhidos pela alma potente e “presente” da multiartista chilena Violeta Parra.

O texto de Abreu é sensível, inteligente e atemporal, ele é partitura que permite a atriz Rose Germano cumprir seus diversos e desafiantes papéis de ser atriz-narradora-cantora-Violeta. A atriz executa com potência e equilíbrio a complexa composição cênica construída pela direção, num ritmo capaz de fazer o público ser absorvido pelo universo de Violeta Parra.

A encenação utiliza 10 canções importantes de Violeta Parra na voz e violão de Rose Germano e Bruno Menegatti, mais que cortinas sonoras que dimensionam tempo e espaço, mas uma estrutura orgânica e  muito bem resolvida, com andamentos dramáticos que suscitam andamentos musicais como o allegro (alegre, ligeiro) grave (solene),largo (amplo), andante (agradável), Moderato (moderado), adágio (suave).

Essa estrutura, alicerçada pela dramaturgia de Abreu, com cenário delicado de Albini corretamente iluminado por Fujji, sob a batuta de Rocha, possibilita Rose Germano constituir uma relação íntima e inquebrável com o público,  num diálogo pautado pela surpresa, espanto, revelação e afeto.

O espetáculo obtém êxito completo nessa relação, sendo capaz de emocionar e fazer pensar, seja quando nos defrontamos com as dores e lutas da artista chilena, ou com a nossa realidade histórica e social, de um Brasil que ainda não se integrou como deveria ao seu próprio continente, e que se projeta como colonizador e explorador, face terrível ensaiada na ditadura e pelo neofascismo verde e amarelo.

Violeta Parra em 10 cantos é obra que nos reaproxima da cultura brasileira e latina, de nós mesmos, enquanto povos que vivem a nefasta tradição de exploração e desvalorização cultural. A peça é um canto de oprimidos que não se curvam, como foi o caso concreto de Violeta Parra.

Vale ressaltar o papel importante em cena do músico Bruno Menegatti, um porto seguro para a atriz-narradora-cantora, como um spalla que fica à frente da orquestra.

Violeta Parra em 10 cantos é um espetáculo necessário, urgente e que merece calorosos e merecidos aplausos.

Informações sobre o espetáculo:

Violeta em 10 cantos, Teatro Itália Bandeirantes, República, Centro de São Paulo, até 28 de abril, Sábados, 20h, domingos, 19h.

(Fotos Marcelo Estevão)

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