CARTA DE REPÚDIO À DEMOLIÇÃO DO TEATRO VENTO FORTE E DA ASSOCIAÇÃO CRUZEIRO DO SUL
À Prefeitura de São Paulo,
Aos Órgãos de Defesa do Patrimônio Cultural,
Aos Autores da SBAT,
Aos Artistas, Produtores e Trabalhadores da Cultura,
Aos Agentes Públicos e Lideranças Culturais,
À Classe Política e Parlamentares,
Aos Movimentos Sociais e Organizações da Sociedade Civil,
À Imprensa e Veículos de Comunicação,
À Comunidade em Geral.
A SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, entidade centenária comprometida com a defesa dos direitos dos autores e a valorização da cultura, manifesta seu absoluto repúdio à destruição do Teatro Vento Forte e da Associação Cruzeiro do Sul, ocorrida em 13 de fevereiro de 2025.
A demolição do Teatro Vento Forte e da Associação Cruzeiro do Sul, realizada sem aviso prévio, sem justificativa pública e sem respeito ao devido processo legal, configura um ataque direto à cultura, à memória e à diversidade artística e religiosa do país. A ação da prefeitura de São Paulo através da subprefeitura de Pinheiros foi truculenta, desrespeitosa e ilegal. A falta de transparência e a ausência de documentação adequada demonstram um completo desprezo pelos direitos culturais e religiosos da comunidade. A intolerância religiosa e a destruição de patrimônios culturais são crimes que devem ser investigados e punidos com rigor.
Fundado em 1974 pelo dramaturgo e diretor Ilo Krugli, sócio da SBAT, o Teatro Vento Forte era um dos mais importantes centros de criação, formação e pesquisa teatral do país. Sua trajetória de 50 anos consolidou-o como um espaço de referência, onde gerações de artistas e educadores foram formados. A destruição de seu acervo, incluindo obras de arte e documentos históricos, representa uma perda irreparável para a memória cultural do Brasil.
A Associação Cruzeiro do Sul, dirigida pelo Mestre Meinha, também foi alvo dessa ação arbitrária. Mais do que um espaço físico, trata-se de um local sagrado para a prática da capoeira e a preservação das tradições afro-brasileiras. A SBAT considera essas ações como um atentado contra a liberdade religiosa, a diversidade cultural e o patrimônio artístico nacional. A destruição de seus elementos simbólicos e históricos reflete um desrespeito inadmissível às expressões culturais que moldam a identidade do povo brasileiro.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 215, assegura a todos o pleno exercício dos direitos culturais e a proteção das manifestações culturais. Além disso, o Decreto-Lei nº 25/1937, que dispõe sobre o tombamento do patrimônio histórico e artístico nacional, e a Lei nº 9.605/1998, que trata dos crimes contra o meio ambiente e o patrimônio cultural, foram frontalmente violados. Não se pode admitir que um governo municipal aja em desacordo com a legislação que protege a cultura e a memória coletiva.
A SBAT exige uma investigação imediata e transparente sobre os fatos ocorridos, bem como a responsabilização dos envolvidos nesse ato de vandalismo institucional. É imperativo que a Prefeitura de São Paulo preste contas à sociedade sobre as razões que levaram a essa ação truculenta e desrespeitosa, e que sejam tomadas medidas para reparar os danos causados ao Teatro Vento Forte, à Associação Cruzeiro do Sul e à comunidade artística e cultural que ali se reunia.
Diante desse cenário de afronta à cultura e à história, conclamamos todas as instituições culturais, artistas, educadores e cidadãos a se unirem em defesa do patrimônio imaterial e contra a negligência do poder público. Não aceitaremos que a arte e a memória sejam tratadas como obstáculos ao desenvolvimento urbano ou como bens descartáveis diante de interesses econômicos obscuros.
A cultura resiste. A memória resiste. Não nos calaremos diante desse crime.
Atenciosamente,
SOCIEDADE BRASILEIRA DE AUTORES TEATRAIS
São Paulo, 14 de fevereiro de 2025