Na minha vida escolar composta de 11 anos, na minha época ainda não havia o 9º ano, estudei em só duas escolas: o conservador Mackenzie e, posteriormente, o moderno (para a época) Colégio Objetivo. E nesses dois locais, supreendentemente, e que me moldaram como pessoa, o Teatro era muito incentivado.
O Mackenzie realizava peças teatrais para cada data festiva: Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, e com superproduções, em matéria de cenários, figurinos e adereços. O Objetivo não ficava atrás. Além de ter um teatro na Avenida Paulista, sempre incentivou a fazer peças, produziu as mesmas, e tinha aulas de Teatro entre as atividades chamadas de extracurriculares.
Aliás, foi esse mesmo Mackenzie que me levou para assistir a minha primeira peça de Teatro infantil, “O Mágico de Oz”, num auditório da ACM (Associação Cristã de Moços) na Rua Nestor Pestana, em frente ao Teatro Cultura Artística. Foi essa peça, que me marcou muito, que me levou a escrever outra infantil: “O Mágico de Inox”, sobre reciclagem (registrada na SBAT).
Lembro-me (e ainda tenho) que com 11 anos de idade, escrevi minhas primeiras peças de teatro e convoquei a minha turma, na época da 5ª. Série do Ginásio (hoje Ensino Fundamental), para produzir e encenar a mesma. Eram peças “policiais”, pois na época eu era fascinado pelos livros da Agatha Christie.
E o colégio não barrava. Ajudava, incentivava, com apoio dos professores (de Educação Artística) e diretores, nós apresentávamos as peças quando havia uma brecha nas aulas. Escrevi na mesma época uma peça de teatro sobre gangues de rua que brigavam com batalhas de “break dance”. Sim, eu peguei a época das roupas fluorescentes. E assim por diante.
Ao chegar no “Colegial” (atual Ensino Médio), fui fazer aulas de teatro e encenei uma montagem adaptada de “Hair”, que teve algumas apresentações para os demais alunos do colégio. Tudo com palco, iluminação, figurinos, e tudo o que uma produção profissional exige. E isso me ensinou muito, tanto pessoal, quanto profissionalmente. Se perdi a pouca timidez que tinha, tanto para atuar quanto para escrever, devo a essa “fase teatral” na escola.
E agora presencio essa nova época, em que não vejo as escolas fazerem nada com viés teatral. Não há peças feitas nas escolas, os alunos não vão ao teatro, não falam de teatro, não fazem teatro. Se soubesse o QUANTO contribui para melhorarem o raciocínio, a timidez, a forma de se expressarem, a oratória, a demonstração de ideias, o Teatro faria parte do currículo escolar!
A meu ver, nunca devia ter sido abandonado, mas sim, incluído MESMO no currículo, como disciplina obrigatória. O Teatro é a segunda arte mais antiga do mundo, só perdendo para o desenho. Os gregos já sabiam disso, e passavam as mensagens através do Teatro. Temos o exemplo da Inglaterra onde a Rainha ia ao Teatro “camuflada”. O Teatro de rua, o de arena, o de circo, o de rádio, o filmado, o cantado, e todas as modalidades e versatilidades desta arte.
Precisamos retomar isso. Precisamos convencer as escolas que Teatro é arte, cultura, noção de grupo, de comunidade, e que precisa estar na grade. Nenhuma arte é mais coletiva do que o Teatro. Ensina a conviver, a gerir, a cooperar, a trabalhar em equipe, junto, ao lado.
Se o Teatro estivesse nas escolas, os adultos não iam sentir tanta necessidade de coachings, de cursos de oratória, de “dinâmicas de grupo”, de aprender gestão. A escola e o Teatro já teriam ensinado. E foi o Teatro que me moldou, e me tornou o que sou hoje.
E para terminar, o Teatro escrito com letra maiúscula foi proposital. Pois Teatro é mais do que apenas arte: é Cultura, é Conhecimento, é Ciência. E, por isso, merece ser escrito com letra maiúscula. POR MAIS TEATRO NAS ESCOLAS!
Imagem gerada pela Inteligência Artificial Gemini (Google).
Stevan é Associado SBAT desde 1986 – quase 40 anos, e já escreveu e produziu peças infantis.