“Nasci pra ser Dercy” retorna a São Paulo (SP), após sua estreia na cidade em janeiro de 2023, para uma curta temporada no Teatro UOL. Em turnê pelo Brasil há dois anos, o espetáculo já passou por 17 estados e foi assistido por mais de 50 mil espectadores.
Com voz em off de Miguel Falabella e estrelado por Grace Gianoukas, o monólogo presta uma emocionante homenagem a Dercy Gonçalves, artista que quebrou padrões e trouxe uma representação autêntica da cultura brasileira aos nossos palcos.
Pelo papel, a atriz Grace Gianoukas conquistou os prêmios APCA e Shell (2024) de melhor atriz, além do prêmio I Love PRIO (2024) de melhor performance. O dramaturgo Kiko Rieser venceu o Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Dramaturgia Original (2023). “Dercy Gonçalves é quase sempre retratada apenas como uma velha louca que falava palavrão”, comenta Kiko Rieser. “No texto, busco revelar ao público a mulher grandiosa e complexa que ela realmente foi”.
Dercy Gonçalves (23/06/1907–18/07/2008) faleceu aos 101 anos de idade. Desbocada e defensora intransigente da liberdade, Dercy, curiosamente, era bastante reservada em sua vida pessoal. Casou-se e enviuvou ainda virgem, mantendo uma vida íntima distante da imagem pública irreverente. Durante a ditadura militar, desafiava abertamente a censura, mas se recusava a defender bandeiras políticas específicas, exceto a da liberdade irrestrita e do respeito a todas as formas de existência.
Consagrada como vedete do Teatro de Revista, sua maior contribuição ao teatro brasileiro foi revolucionar a comédia popular. Dercy levou sua expertise para o gênero, transformando-o ao trazer textos inovadores e inaugurar uma nova forma de interpretação. Ela rompeu padrões e instaurou uma representação genuinamente brasileira nos palcos.
“Nasci pra ser Dercy me proporcionou uma grande oportunidade de pesquisar e conhecer melhor Dolores Gonçalves Costa. Ao contrário de mim, que sempre tive o apoio da minha família, ela enfrentou o mundo sozinha, amparada apenas pela força de sua alma expansiva. Essa alma, guiada pelo desejo de liberdade e conhecimento, ela batizou como Dercy Gonçalves – uma grande guerreira que transformou sua dor em alegria para o povo brasileiro”, fala Grace Gianoukas sobre a atriz.
Sinopse
A peça começa com uma atriz, Vera, entrando no estúdio para fazer teste para o papel de Dercy Gonçalves em um filme. Conforme vai dando suas falas, ela se revolta contra o roteiro, cheio de estereótipos. Sua mãe era grande fã de Dercy e por isso Vera cresceu conhecendo e sendo influenciada pelo exemplo dessa artista icônica. Ela então, transformando-se em Dercy, começa a mostrar quem realmente foi essa mulher à frente de seu tempo.
Serviço:
“Nasci pra ser Dercy”
Duração: 80 minutos.
Gênero: comédia.
Classificação: 14 anos.
Temporada: de 10 de janeiro a 2 de fevereiro de 2025.
Horário: sextas e sábados, às 20h, e domingo às 18h.
Sessões com intérprete de libras e audiodescrição.
Ingressos: a partir de R$60,00.
Ingressos online: https://teatrouol.com.br/espetaculos/nasci-pra-ser-dercy/
Bilheteria: Quartas e quintas das 17h às 20h, sextas das 16h às 20h, sábados, das 13h às 22h e domingos, das 13h às 20h.
TEATRO UOL | 300 lugares.
Shopping Pátio Higienópolis – Av. Higienópolis, 618 / Terraço.
Tel.: (11) 3823-2323.
Acesso para cadeirantes / Ar-condicionado / Estacionamento do Shopping: consultar valor pelo tel: 4040-2004.
Texto de Grace Gianoukas – Atriz
ASSIM COMO DOLORES
Quando eu nasci, o Brasil já gargalhava com Dercy Gonçalves. À medida que eu fui crescendo, fui assistindo a seus trabalhos no cinema, na TV, suas participações memoráveis nos programas de auditório… No final dos anos 80, a partir de uma sugestão da atriz Christiane Tricerri, fui convidada pelo Jornal da Tarde para, ao lado de outras atrizes comediantes, assistir ao show de Dercy no teatro e conversarmos com ela no final. Foi ótimo! Ela nos tratou com muito carinho e disse uma coisa que eu nunca mais esqueci: “Evitem ficar tirando a roupa em qualquer trabalho. Enquanto vocês são jovens, muitas vezes a nudez é só exploração da imagem feminina, é só chamariz, não tem nada de arte. Deixem pra ficar nuas quando tiverem a minha idade. Uma velha nua é uma transgressão, traz questionamento, e isso é arte.”
Convivi com várias mulheres de sua geração e sei dos horrores de moralismo, machismo e opressão social que elas passaram, e por isso admiro Dercy profundamente, pela força, inteligência, empreendedorismo e extraordinário talento como atriz, autora e produtora.
O convite de Kiko Rieser para atuar em “Nasci pra ser Dercy” me trouxe uma grande oportunidade de pesquisar e conhecer melhor Dolores Gonçalves Costa, que, assim como eu, nasceu numa cidade do interior, onde muitas vezes se sentia extremamente deslocada e incompreendida. No entanto, ao contrário de mim, que sempre tive o apoio da minha família, ela teve que enfrentar o mundo sozinha, sem nenhuma orientação, amparada apenas pela força de sua alma em expansão. Essa alma, guiada pelo seu desejo de liberdade e conhecimento, ela batizou como Dercy Gonçalves, uma grande guerreira que transformou sua dor em alegria para o povo brasileiro.
Texto de Kiko Rieser – Autor e Diretor
A AVÓ DE TODOS NÓS
Quando criança, eu queria que Dercy fosse minha avó. Dito isso em voz alta, minha avó Daisy ficou ofendidíssima, ou ao menos fingiu que ficou, como se eu quisesse substituí-la. Na minha cabeça – e foi isso que respondi – a coisa era simples: tendo apenas uma avó, havia ainda um outro posto vago, que poderia ser ocupado por aquela velhinha que me encantava com sua autenticidade e seu despudor em soltar verdades e palavrões conforme lhe vinham à cabeça. Acho que nunca havia visto até então, como tampouco vi depois, uma pessoa tão autêntica quanto Dercy Gonçalves. Faço parte da última das diversas gerações que Dercy atravessou e influenciou em 101 anos de uma vida intensa e prolífica, e é claro que descobrir uma senhora emplumada no alto de seus 90 anos mandando tomar no cu quem lhe desse na telha e se dirigindo ao presidente da República com um “ô, cara” tinha um sabor especial de transgressão. O estigma da “velha louca que fala palavrão” me fascinou.
Mais tarde descobri como essa definição é redutora, e até mesmo falsa, porque de louca Dercy não tinha nada. Pelo contrário, tinha consciência e método de sobra. Só depois que escolhi o palco como ofício, me deparei com a imensa importância que ela teve para o teatro e a autonomia das mulheres. Podemos dizer sem risco de exagero que Dercy revolucionou o teatro brasileiro. Das tantas faces dessa atriz colossal, a maioria segue desconhecida pelo país. Hoje, 15 anos após sua morte, acho escandaloso que ainda não tenha havido uma obra dedicada a ela na arte à qual ela dedicou toda sua existência: o teatro. “Nasci pra ser Dercy” é uma homenagem, mas também um resgate histórico e um alerta para que a memória da cultura brasileira não se perca, para que saibamos sempre quem são as pessoas que vieram antes de nós e, assim como nossas avós, pavimentaram o caminho para que hoje sejamos quem somos. Obrigado, Dercy!
FICHA TÉCNICA
Texto e direção: Kiko Rieser.
Atriz: Grace Gianoukas.
Voz off: Miguel Falabella.
Diretor de Produção: Paulo Marcel.
Técnico de luz: Jânio Silva.
Técnico de som: Éder Sousa.
Contra regra/camarim: Venicio Alvarenga.
Cenário e figurino: Kleber Montanheiro.
Desenho de luz: Aline Santini.
Trilha sonora original e arranjos: Mau Machado.
Canção-tema “Só sei ser Dercy”: Danilo Dunas e Pedro Buarque.
Visagismo: Eliseu Cabral.
Assistência de direção: André Kirmayr.
Preparação corporal: Bruna Longo.
Preparação vocal: André Checchia.
Colaboração no processo: Fernanda Lorenzoni.
Assistência de figurino: Marcos Valadão.
Cenotécnica: Evas Carreteiro.
Design gráfico: Pierre da Rosa.
Assessoria de imprensa: Flavia Fusco Comunicação.
Mídias sociais: Pierre da Rosa.
Fotos: Heloísa Bortz.
Assessoria jurídica: Dr. Sérgio Almeida.
Realização e Produção Nacional: Ventilador de Talentos.
Produção associada: Rieser Produções.